28 agosto 2009

O Evangelho

Li no Pava:

O Evangelho não é um chamamento ao arrependimento ou à correção de nossos caminhos, ou uma forma de pagar pelos nossos pecados antigos, ou para prometer ser melhor no futuro. Estas coisas têm o seu lugar, todavia elas não constituem o Evangelho; porque o Evangelho não é bom conselho para ser seguido, são boas-novas para serem cridas. Então, não cometa o erro de pensar que o Evangelho é um chamamento ao trabalho ou um chamado para uma mudança, um chamado para melhorar o que você é, para comportar-se de uma maneira melhor que a que você tenha sido no passado...

Nem é o Evangelho um pedido para que você desista do mundo, que você desista de seus pecados, que você quebre seus maus hábitos, e tente cultivar hábitos bons. Você pode fazer todas estas coisas e ainda nunca ter acreditado no Evangelho e consequentemente nunca ter sido salvo.

Pastor Harry A. Ironside (1876-1951), em seu sermão: What Is The Gospel?

26 agosto 2009

Eu sei, mas não devia

Eu sei, mas não devia (1972)
Marina Colasanti


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.


Marina Colasanti nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em Amor; Contos de Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha, Zooilógico, A Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um animal delicado. Escreve, também, para revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.


O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.


Recebido por email do amigo Rafael Juliano

Comece bem seu dia!

Propaganda muito boa...

Achei no Sedentário



E a vontade que dá de acordar com essa disposição... ahahahaah

24 agosto 2009

No Getsêmani

Ontem em nossa reunião eu falava do quanto esta música me toca... queria deixar aqui para quem quiser ouvi-la e e sentir o que bem quiser.

Grande abraço.

05 agosto 2009

Frase do dia

"Ora, ninguém que ande no Evangelho e segundo a mente de Cristo, terá qualquer sistema fechado; posto que somente em Jesus, o Cristo Eterno de Deus, é que todas as coisas têm sua síntese e convergência total."

Caio Fábio

04 agosto 2009

Segunda Feira Blues

Eu já tinha escrito aqui sobre essa música. Afinal, é da minha banda predileta!

Mas fiquei muito feliz mesmo com essa adaptação que fizeram. Segue: