30 dezembro 2009

Cordel de Natal

Cheguei com atraso, mas ainda vale assistir:

Muito bacana mesmo!!!

28 dezembro 2009

Outro conto de Natal...

Encontrei este texto no MDig... Blog excelente diga-se de passagem.

Texto do bom...

Gaste um tempinho:

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Tiãozinho: Sete anos, mendigo com cinco anos de experiência, experiente em bater pernas pelas ruas com ou sem sapatos, hábil na arte de driblar o tráfego caótico do centro de Joinville e tremendamente criativo.


Vinte e quatro de dezembro. Tiãozinho acordou como sempre às sete da manhã. Hoje queria ficar um momento mais brincando com seus dois irmãos: João de 10 anos e Claudinha de seis. Mas sua madrasta arrastou-o com puxões.

Quando abria a torneira da amarelada pia para lavar o rosto, sentiu como se a orelha estivesse sendo rasgada e arrancada pela raiz. A madrasta achava que a cara suja dava mais pena e que as esmolas seriam maiores.

No trajeto até ao centro da cidade, era obrigado literalmente a correr para acompanhar o passo de uma mulher adulta, robusta e de péssimo caráter. A volta para casa era sempre a pior parte, caminhar seis quilômetros com o corpo moído após uma jornada de catorze horas.

Isabel se encarregava de calcular minuciosamente as arrecadações, e atribuir a cota correspondente à cada um dos filhos; na realidade só Claudinha era sua filha, motivo pelo qual desfrutava de alguns pequenos privilégios. Estabelecido o montante, era fácil estabelecer o castigo por não cumpri-lo.

Na véspera de natal, o horário de sua mendicância estendia-se por várias horas a mais do que o habitual. Isabel também fazia previamente o cálculo das esmolas pelas horas extras.

Enquanto caminhava entre a multidão entrando e saindo de lojas, pensava nos homens fantasiados de vermelho que encontrava à cada passo. Sabia que eram cidadãos comuns contratados para chamar a atenção dos possíveis clientes; mas a existência real de um verdadeiro Papai Noel, significava para Tiãozinho um verdadeiro labirinto.

Não podia compreender a existência de um personagem teoricamente bom e praticamente cruel. Estava convencido de que Papai Noel era um invento dos ricos, para os ricos.

O dia não foi bom; muita chuva e pouca gente generosa. Tiãozinho tinha fome, mas não era possível gastar as moedas da cota estabelecida por Isabel.

Quando conseguia algum superávit com as esmolas, o menino guardava as moedas a mais no bolso esquerdo; as do direito eram para entregá-las à madrasta. Nunca teve muita sobra, o dinheiro que conseguia a mais, mal dava para saciar a fome duas ou três vezes à semana.

Quando anoiteceu, o menino estava esgotado. Não era possível regressar para casa, isso significaria uma consabida surra, ademais o jejum obrigatório. O sistema estabelecido era simples: Isabel contava duas vezes o dinheiro, se estava de acordo a suas expectativas, autorizava o garoto a fuçar as panelas e comer. Se faltavam moedas, castigava-o com uma vara e ordenava que fosse para a cama de barriga vazia. Era preferível vagar por um tempo a mais e tentar a sorte entre o turbilhão enlouquecido no leva e traz de presentes, pacotes, álcool e insensibilidade.

Deteve-se em frente a uma imensa vidraça e contemplou assombrado um senhor gordo e grande que parecia comprar tudo que via pela frente. Pensou que homem precisaria de um caminhão para transportar suas compras até sua casa. Eram tantos os pacotes enfeitados e tantas as notas que o senhor gordo entregava ao caixa, que Tiãozinho mal acreditava no que via. Eram notas com grandes números que o menino só tinha visto na televisão.

Até que o senhor saiu, seguido de vários ajudantes que carregavam tudo o que podiam. Idas e vindas, atividade intensa, ofegavam entre o tumulto. Uma caminhonete repleta de presentes! Teria tantos filhos? A caminhonete se foi.

Tiãozinho ficou absorto e tropeçou numa volumosa caixa: o senhor gordo tinha esquecido um presente. Seria este pacote que tantos sonhos lhe trouxe? Era um presente, mas não tinham lhe presenteado; dizem que Papai Noel não se esquece dos presentes, que os deixa de propósito e a domicílio. Dizem que Papai Noel...

O menino pegou a caixa e correu ao encontro do automóvel, não tinham deixado o presente para ele, e assim não servia. O tráfego lento favorecia, uma quadra e meia de corrida e pronto. O senhor gordo esperava impaciente a mudança de cor do semáforo quando o menino bateu na sua janela. Não prestou atenção pensando que o garoto só queria uma esmola. Tiãozinho parou na frente do automóvel mostrando a caixa que já pesava muito. Então o senhor recebeu o pacote, agradeceu com um rosnado e partiu sem dizer mais nada.

Tiãozinho empreendeu cabisbaixo o caminho para casa. Estava resignado. Não teria presente, não tinha completado a cota de esmola, não teria jantar e as surras não enchem o estômago. Pensou em como desviar-se das "varadas" da madrasta; pensou em seu pai, bêbado como um gambá, falando besteiras; em seus irmãos jantando e dormindo.

De repente alguém se deteve em frente a ele, era um senhor gordo, mas outro. Este usava aquela fantasia vermelha e branca, linda barba, bochecha rosada e um doce olhar. O senhor buscou em seu bolso e depois estendeu a mão sorridente, entregou um pirulito desses que têm chiclete dentro, acariciou a cabeça do menino e desapareceu na escuridão.

Quando Tiãozinho saiu de seu assombro, prosseguiu a caminhada lentamente, despreocupado. Pôs o pirulito no bolso esquerdo e decidiu que o desfrutaria quando os demais dormissem.

Abriu a porta trêmulo e entrou devagar, cabeça baixa. Quando levantou o olhar ficou perplexo; a mesa estava posta, Isabel servia a refeição, papai estava sóbrio, todos compartilhavam. E não teve surra, e tinha chocolate e tinha panetone, até toalha rendada tinha! No canto da cozinha, cinco pequenos pacotes de presentes. Tiãozinho saiu ate o quintal, deu um pulo espetacular e soltou um agudo grito ouvido possivelmente até no polo norte:

- Ele existeeeeeeeeeee...

23 dezembro 2009

Meu orgulho de ser humilde

Salve salve Paulo Brabo!

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Minha mesquinheza não tem limites, mas não é sempre que recorro à custosa lucidez que poderia manter-me consciente deste detalhe.

Terá sido há vinte anos, mas lembro claramente o dia em que diagnostiquei em mim mesmo o mecanismo de congratulação infinita, através do qual me parabenizo incessantemente pela qualidade equilibrada e excelsa da minha posição. Percebi que, quando estava na casa de alguém muito pobre, agradecia em oração silente a Deus o fato de não ser tão pobre quanto aquela pessoa, e de poder dessa forma ser poupado dos pecados e tentações da pobreza; paralelamente, quando estava na casa de um homem mais rico, congratulava-me pelo fato de não ser tão rico quanto ele, e de ser dessa forma poupado dos pecados muito evidentes da sua riqueza.

Quando uma coisa aconteceu logo após a outra fui capaz de enxergar por um instante o mecanismo por trás da cortina, e recuei em absoluto horror diante de mim mesmo. Mas não tenha pena de mim, porque essa espécie de lucidez só dura um momento. Na maior parte do tempo somos precisamente como o fariseu da parábola, que felicitava-se – e diante de Deus! – por não ser pecador como aquele cobrador de impostos. De fato, nos consideramos as mais equilibradas, compensadas e admiráveis das criaturas, e damos constantes tapinhas nas nossas próprias costas a fim de festejar adequadamente esses méritos.

Fazemos isso condenando sem cessar, do alto de nossa posição, as descompensações dos outros. Não me lembro de ter visto esse mecanismo articulado de forma mais brilhante do que nesta tira do genial David Malki !, em que um desprezível protagonista, que somos nós, professa sua fé:

– Qualquer um mais inteligente que eu é um nerd; qualquer um mais burro que eu é um idiota. Qualquer um mais velho que eu é um decrépito; qualquer um mais novo que eu é um guri. Qualquer um menos promíscuo que eu é um puritano; qualquer um mais promíscuo que eu é um puto.

E, enquanto nos julgamos no centro do equilíbrio, somos poupados dos riscos que ocasionaria avançar em qualquer direção. Bendita seja nossa mediocridade, que nos salva a cada minuto da insensatez que seria avançar em direção à grandeza.