05 junho 2009

Eu já sabia!!!!!!!!!!!

Escolha seu nerd!!!

A Monica escolheu o dela e seu deu bem... ahahahahahahahahaha








Quando ela me conheceu... era beeeeeeeeeeem pior!!! ahahahahahahah

03 junho 2009

Mais sutis


Texto curiosíssimo do Brabo.

Sem pretensões de conclusões ou nada... apenas uma leitura interessante:




– Minha idéia – disse o roteirista – é explorar uma espécie de diferente de totalitarismo. Algo insidioso e sutil, que evite por inteiro aqueles discursos dramáticos de ditador diante de uma multidão cega. A idéia na verdade é ocultar até o final a identidade do ditador.

– O problema é que todas as histórias de totalitarismo já foram contadas – observou o diretor, com cautela. – Nos nosso dias, depois da morte das ideologias, o público do ocidente desenvolveu um faro apuradíssimo para populistas e cafajestes. Quando o seu ditador começar a abrir as asinhas qualquer espectador será capaz de farejá-lo a quilômetros de distância.

– Hitler começou com alguma sutileza. Ele não aboliu as instituições imediatamente, mas criou organizações paralelas aparentemente inofensivas que acabaram engolindo as entidades oficiais.

– Hitler começou incendiando o edifício do Parlamento e anulando os direitos civis. Não há muito de sutil nisso.

– Devemos então ser mais sutis.

– Isso sem dúvida – o diretor puxou do bolso o maço de cigarros.

– Na Alemanha de Weimar a postura geral em relação à República era de desconfiança e ressentimento – disse o roteirista, inclinando-se para a frente. – As pessoas sentiam falta da segurança da monarquia e da autoridade unânime do Kaiser, e desconfiavam com a mesma intensidade da democracia que os vencedores lhes haviam aplicado goela abaixo. Eram gente acostumada a obedecer e venerar uma única figura carismática, e puderam assim sem qualquer trâmite abraçar a retórica de Hitler.

– Precisamente – o diretor puxou um cigarro, segurou entre os dedos e passou a batê-lo gentilmente na superfície da mesa. – Hoje em dia vivemos no extremo oposto do espectro. O que os alemães de Weimar desconfiavam da democracia, nós desconfiamos do totalitarismo.

– A não ser que, como na Alemanha de entre as guerras, as circunstâncias encontrem o ditador certo.

– Não, não. Tarimbados como estamos, nem mesmo a crise atual bastará para cairmos na armadilha de um Mussolini. Os direitos civis são agora religião, a única coisa sagrada que resta. O sujeito que quiser aboli-los será o primeiro a ser abolido. Fale uma palavra contra a democracia nesse seu roteiro, e você vai ver.

– E faz sentido que tenhamos criado esses mecanismos, porque historicamente foram as ações populares que restauraram periodicamente o equilíbrio de sistemas e governos doentios. Pense na Revolução Francesa, nas revoltas pela abolição…

– A própria Resistência – o diretor acendeu o cigarro e puxou um trago solene.

– Exato. As ações populares servem para equilibrar os governos, mas este é um processo cujos extremos não conhecemos. Imagine um mundo em que a participação dos cidadãos torne-se tão pulverizada que passe a reverter os pratos da balança.

– Não estou entendendo – o diretor reclinou-se para trás, equilibrando no encosto da cadeira o braço do qual pendia o cigarro. – De que mundo estamos falando?

– Imagine um mundo – prosseguiu o roteirista – em que o cidadão espere que o respeito que lhe prestam não seja um bem a ser adquirido pela sua postura pessoal, mas um serviço dos outros que cabe ao governo fazer cumprir. Um mundo em que a proliferação de direitos individuais acabe cerceando o bem comum, ao invés de promovê-lo.

Uma ruga de compreensão e assombro formou-se na testa do diretor.

– Num mundo assim – ele disse, – os pais processam a polícia pelos delitos dos filhos.

– Isso mesmo – celebrou o roteirista. – Uma sociedade litigiosa. Numa sociedade dessa natureza todos se tornam delatores potenciais de todos, precisamente como, digamos, no totalitarismo soviético. A diferença é que o que motivava um delator soviético era o fato de que todos os direitos haviam sido subtraídos de todos; numa sociedade litigiosa o que motiva o delator é que todos os direitos foram outorgados a todos. O negativo é agora positivo.

– E portanto mais atraente.

– E portanto irresistível. A vigilância é onipresente, não porque o governo está em todo lugar, mas porque o povo está.

– Se o meu direito termina onde começa o direito do outro – o diretor apagou o cigarro no canto da mesa, – onde há apenas direitos todos são plenamente cerceados por eles. Nada acontece.

– Nada acontece que não seja potencialmente litigioso – corrigiu o roteirista. – Ou seja, todos apelam continuamente para que o governo garanta os seus direitos.

– E o papel do povo numa democracia, que era policiar os excessos do governo, é revertido. O governo se vê obrigado a julgar os excessos do povo.

O roteirista recusou-se a acrescentar alguma coisa.

– Meu Deus – disse o diretor, puxando novamente o maço de cigarros do bolso.

– Precisamente – disse o roteirista.

Salve Paulo Brabo