Quem me acorda é Eddie Vedder. Ele está dizendo que sente algo morno escorrendo por entre os olhos, mas que de alguma forma avista sua garota no meio da multidão apreciando a cena do acidente, como urubus. Uma guitarra de acordes fáceis, mas não o suficiente para que eu saiba repetir o som, acompanha a lamúria.
Já li em algum lugar que o primeiro dos nossos sentidos que volta a funcionar quando despertamos é o olfato. Ou o último, não me lembro. O fato é que no meu caso, ele é o segundo. Sinto um cheiro de cabelo lavado com condicionador. É incrível como o aroma é sinestesicamente úmido, sugerindo que o banho foi há apenas algumas horas. Inspiro mais forte, seguro o perfume dentro dos pulmões por alguns segundos para depois desperdiçá-lo nas minhas hemácias.
Em terceiro lugar, o tato. Um formigamento no ombro que se irradia para o braço esquerdo; algo pesado em cima dele. Assim como acontece num infarto. Minha coluna dói um pouco. Percebo que estou com as pernas dobradas, na posição de quem está deitado sobre um puff que o tempo achatou e preenchido inutilmente por sacolas plásticas.
Quarto, visão. Vejo o rosto de uma mulher. As pálpebras ainda escondendo seus olhos azuis. É ela quem está sobre o meu braço. As sobrancelhas são uma penugem de um loiro quase branco e o nariz está a menos de um milímetro do meu. Ela abre os olhos, me vê e sorri, desfazendo o M do lábio superior e deixando o filtro labial mais raso. Fechamos os olhos novamente.
Finalmente o paladar.
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Texto visceral escrito por meu primo Nilo no ano passado no Cloaca Pública
2 comentários:
Eddie Vedder tocou bem no Into the Wild, eu assisti o filme =)
Absolutamente genial!!! Parabéns pro Nilo!
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