Fazer todas as coisas para a glória de Deus é uma destas recomendações que somente os evangélicos entendem, ou na verdade nem mesmo os evangélicos entendem. Parece que temos uma espécie de dialeto, que usamos em nossas conversas, trocando expressões supondo que todo mundo está entendendo, mas de fato ninguém está entendendo nada, ou cada um está entendo uma coisa, isto é, cada um tem seu jeito de entender a coisa.
O que significa, de fato, fazer todas as coisas para a glória de Deus? Seria algo como fazer todas as coisas em homenagem a Deus, como os jogadores de futebol que apontam para o céu após marcarem um gol, o formando que dedica seu diploma a Deus, ou como Bach que assinava soli Deo gloriae? Será mesmo que deveríamos comer pizza, dar aulas de matemática e brincar com as crianças em homenagem a Deus? Estaria Deus esperando que a cada instante disséssemos ou pensássemos: Deus, isto é em sua homenagem?
Imagine-se diante de um bebedouro, verificando seus e-mails ou na fila do caixa do supermercado pensando: estou aqui em homenagem a Deus, isto é, estou fazendo isso para a glória de Deus. Pense então naquele momento em que um casal está “discutindo a relação”, o patrão está sacudindo um funcionário indolente e o policial está lavrando uma multa - eles pensariam coisas do tipo: Deus, agora essa é para o Senhor, vou mostrar pra ela quem manda aqui em casa; e Ah, ah, te peguei, malandro, estacionado em local proibido, vou dedicar esta canetada ao Todo-Poderoso.
Acredito que a expressão fazer todas as coisas para a glória de Deus pode ser compreendida de outra maneira. Que tal se trocássemos “para a” por “refletindo”: fazer todas as coisas refletindo a glória de Deus? Ainda não está bom? Que tal compreender a glória de Deus como expressão do seu caráter santo e amoroso? A tradução ficaria assim: fazer todas as coisas de modo a expressar o caráter de Deus ou, para simplificar de vez: fazer todas as coisas do jeito de Deus.
O segredo para a boa compreensão desta recomendação bíblica é sublinhar “todas as coisas”. Isso quer dizer que não existe aquela separação entre vida sagrada e vida profana ou secular e religioso, como por exemplo o culto de oração e a obra da evangelização, que são religiosos e sagrados, e a audiência no fórum e o exame vestibular, que são “do mundo”. A vida como um todo, ou a vida, que é uma só, passa para a esfera do sagrado, onde tudo, absolutamente tudo, está relacionado a Deus e é experimentado na presença de Deus e do jeito de Deus.
Fazer todas as coisas para a glória de Deus é uma outra maneira de dizer que devemos ser cheios do Espírito Santo, isto é, controlados pelo Espírito Santo, ou melhor dizendo, plenos das virtudes próprias do Espírito Santo: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e temperança. Somente pessoas cheias dessas virtudes, ou características do caráter de Deus, fazem todas as coisas do jeito de Deus. Não importa onde esteja, com quem ou fazendo o que, todas as suas expressões serão um reflexo da glória de Deus.
Fazer todas as coisas para a glória de Deus é uma convocação à consciência de Deus, à rendição a Deus e, ao mesmo tempo, à vida reverente, que sabe que tudo está imbuído de Deus e deve ser tratado, cuidado, experimentado e desfrutado como quem manuseia realidades sagradas, plenas de significado e valor. Somente quem vê Deus em tudo e tudo a partir de Deus é capaz de fazer todas as coisas para a glória de Deus. Somente quem se relaciona com Deus como quem respira - respira Deus - vai aos poucos sendo pleno de Deus, das virtudes de Deus, adquirindo as características da pessoa de Deus e vivendo para a glória de Deus, isto é, refletindo Deus todo dia, toda hora, em tudo e em todo lugar.
Ed René Kivitz, no site da IBAB.
Um comentário:
muti bom!
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