01 setembro 2008

Adeus! Adio! Farewell! So Long!

Calma que ainda é só um texto! hehehe E que texto!

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Chegou a hora de dizer muito obrigado.

Muito obrigado por me teres deixado com a sensação de que vivia protegido. Por anos, senti-me escoltado por um vigilante pastor. Caso não te imaginasse cuidadoso, covarde como sou, talvez não conseguisse encarar os percalços que se repetiram por minha história.

Muito obrigado por não me corrigires quando, influenciado por uma espiritualidade utilitária, te pedi o que comer e o que vestir. Por me fazer tão dependente, acabei não dando asas à arrogância que escondia.

Muito obrigado pelas primeiras influências de minha caminhada espiritual. Colocaste-me para trabalhar junto de gente sincera, ingênua, nobre, inconseqüente, bondosa, torpe. Devo a todos, o critério ético, a responsabilidade humana e os escrúpulos espirituais que fui forçado a admitir.

Muito obrigado pelos livros que colocaste à minha disposição. Sob tua tutela devorei inúmeros compêndios de teologia sistemática e me familiarizei com os pressupostos cartesianos da fé. Bebi com a mesma avidez de autores liberais e fundamentalistas. De coração aberto, li os melhores manuais exegéticos, estudei as hermenêuticas mais ortodoxas. Fui um discípulo aplicado, sempre esforçado para exceder em minha dedicação.

Também chegou a hora de me despedir, preciso entrar em uma nova fase.

Preciso viver uma espiritualidade madura que não careça de milagres, que não espere salvamentos espetaculares. Olho para trás e noto os processos pedagógicos que visavam preparar-me para esta vida autônoma. Responsavelmente cônscio que és Pai, reconheço que tu me treinavas para voar e talhar o meu destino no granito. Arrisco-me a dar os primeiros passos sem depender de teus sucessivos amparos.

Preciso viver uma espiritualidade solidária que não busca livramentos sobrenaturais. Enquanto houver uma criança abandonada em algum campo de refugiados das Nações Unidas, enquanto houver um hospital com macas no corredor, não pedirei qualquer bônus sobrenatural.

Não quero privilégios divinos que me distingam. Espero apenas um milagre: ouvir o teu lamento e a tua indignação por tanta morte desnecessária. Concede-me sensibilidade para acolher o teu apelo e ser ao mesmo tempo pregoeiro da justiça e bom samaritano.

Preciso viver a fé como coragem. Não transformarei a minha relação contigo em uma fuga existencial. Enfrentarei as adversidades, celebrarei as conquistas, suportarei o tédio, lamentarei as ruínas, confiando que os valores propostos por Jesus de Nazaré são suficientes para me fazerem mais que vitorioso.

Assim, dou adeus à minha infância espiritual. Claudicante, engatinho rumo à maturidade. Admito que ainda tenho muito chão pela frente. Sigo, porém, a carreira que me foi proposta com o coração vibrante.

Soli Deo Gloria.

Ricardo Gondim

Só podia ser no Pava

Um comentário:

Thiago Mendanha disse...

Ah, quando comecei a ler, de cara já sabia que era o Gondim... rs... César, foi muito edificante estar contigo e ouvir um pouco da sua experiência... Com certeza, não voltei com fui... Abração! E ficamos no aguardo do próximo encontro... rs