As recentes revelações de um “pastor evangélico” da região do ABC paulista, em conversa telefônica gravada com autorização da justiça, são estarrecedoras, ainda que, não me causem surpresa. Dono de uma rádio pirata, o pastor foi flagrado vendendo espaço de “sua rádio” a políticos e candidatos a vereador. O mesmo ainda ensinava o candidato a como burlar a lei eleitoral, fazendo a propaganda sem que pudesse ser caracterizada como infração.
A existência de rádios piratas ligadas a “pastores” é algo que grassa em território nacional. Tenho constatado isto em minhas viagens, quando tento achar alguma rádio na estrada. Sob o argumento de que devem pregar o evangelho de qualquer jeito, eles não têm a mínima ética e se atiram à ilegalidade. O fenômeno pode ser melhor compreendido com a entrada do neo-pentecostalismo e da teologia da prosperidade, que exigem o marketing constante e exaustivo, de forma a trazer as pessoas para seus templos, local onde são exortadas (coagidas?) a contribuir.
Mas a pirataria não está só nas rádios. Ela está no próprio pastorado. Há uma infinidade de pastores piratas no Brasil. São cópias mal-feitas do modelo bíblico e histórico. Na história da igreja séria os pastores são figuras que têm um vínculo histórico com a sua denominação, se submetem a uma educação formal para elevar o nível do saber teológico. Têm o reconhecimento de um corpo de líderes que os examinam e os ordenam.
Os piratas são “pastores auto-ordenados”, que a si mesmos fazem, que a si mesmos se apascentam, frutos de dissidências narcísicas, rebeldes a qualquer tipo de autoridade. Estão mais para ditadores da fé que para pastores do rebanho. Porque sabem umas poucas frases de efeito e acham que têm um dom especial, não têm o menor escrúpulo em condenar tudo o que, por sua ignorância, não entendem.
Auto-didatas (quando muito), são verdadeiras fábricas de abobrinhas teológicas. Falam ousadamente do que não entendem nem discernem. E porque nunca estudaram e nem querem estudar, eles têm uma relação ambígua com os estudos. O que querem é uma carteira de ministro, um certificado de um seminário qualquer. Não querem aprender, mas ostentar um símbolo mágico de um saber que não têm. Por causa deste nicho há as ordens de ministros evangélicos, os seminários meia-boca e os cursos online de teologia, por mais bereanos que afirmem ser.
Se os CDs e DVDs piratas têm a vantagem discutível do preço, os pastores piratas têm a desvantagem certa da exploração financeira de seus seguidores e o processo de imbecilização do saber teológico e doutrinário.
texto que está circulando na internet.
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Não faz muito tempo, fui criticadíssimo por enviar à Prefeitura de Uberlândia uma espécie de dossiê sobre as rádios piratas de Uberlândia que se autodenominam rádios comunitárias.
Por ser publicitário, fui atrás de todos os detalhes e uma sessão da câmara dos vereadores resolveu então acionar a polícia federal. Esta veio e fechou as rádios denunciadas.
Obviamente, eu fui apenas um dos que enviaram. Eu então trabalhava na Rádio Paranaiba, outras rádios também enviaram seus protestos.
Será que podemos roubar um carro por Jesus? Será que podemos assaltar um banco para sustentar missionários?
Então não me venha com essa de que é pra Jesus, que isso é safadeza... isso sim.
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